sexta-feira, junho 14, 2002

Tristeza
Eu aprendi desde cedo que Portugal é uma coisa e o Vasco é outra. Não me sinto torcendo pelo Vasco quando rezo para a seleção portuguesa, essa nobre seleção portuguesa, sobrepujar seus adversários. De maneira alguma. Me sinto, sim, torcendo para um time que tem Figo, João Pinto, Sérgio Conceição, Fernando Couto e o extraordinário Rui Costa. Ou seja, me sinto torcendo para um time de futebol, ainda que, à exceção do primeiro nome - o atual maior jogador do mundo - todos os outros tenham nome de secretário de Saúde de município da Baixada Fluminense.
Portugal, na manhã de hoje, participou de mais um momento de mágoa minha com esta Copa do Mundo que vem injustiçando os craques. Estamos condenados a uma Copa do Mundo sem Zidane, Verón e agora sem Figo. Este, para mim, foi a maior vítima de tudo o que aconteceu com a seleção portuguesa - esta era a Copa de Luís Figo, na minha opinião. Nem antes, nem depois.
Que o Brasil seja campeão, é claro que eu quero. Mas como me honraria, ver o Brasil penta vencendo Portugal numa grande final, com um grande adversário, contra um grande craque. Como me honraria, ver o Brasil superar o timaço argentino numa semifinal atribulada, quem sabe com gol na morte súbita.
Portugal teve uma sorte madrasta - como dizia o treinador Ondino Vieira. Primeiro, perdeu João Pinto, expulso por uma irresponsabilidade. Não fosse aquilo e talvez o time de Antonio Oliveira saísse do intervalo mais disposto. Depois, com a expulsão de Beto, desarrumou-se por completo, expondo Vítor Baía, que acabou tendo uma tarde de heroísmo. O grande Vítor Baía, que voltou a ser grande, mostrando que raça também pode ser atributo de um goleiro - comportamento bem diferente do nosso Marcos, que disse que "ganhar a Copa não muda nada na vida do goleiro".
Mas acabou para Portugal. Ver Figo triste me remeteu a Romário, alijado de sua última chance, mas por mãos humanas, e não mãos divinas, como Figo. Ver Figo saindo de campo, ainda altivo, ainda um craque - mesmo que tenha jogado mal - e ao mesmo tempo saindo da Copa, me veio a mais medonha das vertigens que temos quando criança, que é a vertigem do tempo, aquela que se sente quando alguém lhe diz "você vai crescer". Sim, veio a vertigem de saber que o tempo passa, virão outras Copas e dificilmente Figo lá estará. E Zidane, e Romário.
Me lembrei quando criança, e meu pai, ainda vivo, claro, me disse pela primeira vez que "um dia o Zico vai parar de jogar", e eu não sabia se estava sentindo pena do Zico ou pena de mim mesmo, de ter que viver tardes de domingo sem Zico no Maracanã.
Pois é. Ao ver um ídolo, um símbolo do futebol como Figo sair de campo decepcionado, amargurado, sinto a mesma tristeza que ele, sinto um pouco de pena dele porque um craque não merece isso, mas ao mesmo tempo sinto o mais vil dos sentimento - a pena de mim mesmo, que terei de acompanhar um Copa sem Luís Figo.
Que Portugal jamais desanime, pois já provou que pode fabricar craques.

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