A França pode fazer um biquinho ainda maior nesta Copa
A segunda rodada hoje promete. Pelo grupo E, jogam Irlanda x Camarões e Alemanha x Arábia Saudita. E pelo A, Uruguai x Dinamarca. Se eu fosse recomendar um jogo, apontaria este último, que adquiriu uma importância inesperada depois da derrota de les bleus ontem para o Senegal. Pela primeira vez na minha vida eu falo isso de um jogo, mas não resisto: qualquer resultado é ruim para a França.
Se um dos dois times vencer, ficarão dois times com 3 pontos e dois times com 0 (França um deles). Se for a Dinamarca o vencedor, fará um jogo de comadres com o Senegal, no qual um empate deixa os bleus completamente perdidos, mesmo que vençam o Uruguai (também pela segunda rodada). Aí, na terceira rodada os dinamarqueses precisariam apenas do empate contra a França para garantir a vaga - e a outra vaga poderia ser de Senegal, jogando contra um Uruguai desmotivado, já eliminado. Se os Leões vencessem, bye bye Bleus!
Caso dê Uruguai hoje, fica complicado porque a Celeste partirá motivada para cima da França. E apesar de ser considerado um time baba - e é - o Uruguai ainda tem jogadores como Carini (goleiro reserva da Juve de Turim), Montero, Lembo, Darío Silva, Richard Morales, Magallanes e principalmente Alvaro Recoba. Principalmente. Recoba tem tudo para decidir.
Já a Dinamarca não é realmente a Dinamáquina, mas dá trabalho. Seus dois atacantes não vacilam, têm habilidade e intuição suficientes para fazer muitos gols. Um deles é Jesper Gronkjaër, do Chelsea, da Inglaterra, perigosíssimo. Mas o principal mesmo é o artilheiro Ebbe Sand, campeão da Copa da Alemanha deste ano pelo Schalke 04 (esculachando o Bayer Leverkusen de Lúcio e Zé Roberto). Sand fez dois gols em cima da defesa comandada por Lúcio na decisão.
Municiados por Thomas Helveg, lateral com a experiência da Copa de 1998 (jogou contra o Brasil) e pela esperança no meio-campo, Thomas Gravesen, os dinamarqueses têm condições totais de atropelar o Uruguai e dar um inesperado trabalho aos garotos de Roger Lemerre. É ver para crer. E se alguém estranhar a ausência de Peter Schmeichel no gol, esqueça: o goleirão está jogando na Inglaterra (não me lembro aonde) e pediu aposentadoria da seleção. Mas seu substituto, Sorensen, de 26 anos, tem correspondido às expectativas - mesmo sendo goleiro do mediano Sunderland, da Inglaterra.
Ou seja: reclamamos pra cacete do Brasil, sempre chiamos em Copas, mas desde 1966 que nós não ficamos numa situação tão ruim quanto estão os atuais campeões do mundo. Hoje, nesta mesma noite, deve haver uma vela em cada janela de Paris pedindo pela volta de Zizou...
A Copa vista da Cozinha
Palpites, prognósticos, comentários, desabafos sobre o maior evento que existe
sexta-feira, maio 31, 2002
Allez, les bleus, allez
Não adiantou nem o grito dos franceses do Meridien, onde eu vi a zebra africana tomar conta do jogo inaugural da Copa do Mundo. E eu perdi em vários bolões porque superestimei o time da França - achei que Senegal ou empataria ou perderia de goleada se tomasse logo o primeiro gol. Não tomou. Graças em parte ao goleiro Tony Sylva, que se revelou um gigante.
Sem Zidane, a França realmente virou um time comum. Tem o talento de Patrick Vieira, mas no momento em que Lemerre tirou Djorkaeff - com dois palmos de língua para fora - e colocou o perna-de-pau Dugarry em campo, deu para ver que a coisa ia mal.
E foi pior ainda quando se constatou que Dugarry jogou de meio-campo. Se mal consegue algo sendo centroavante trombador, que dirá no meio-campo.
Para melhor entendedor: mais ou menos a mesma coisa que alguém colocar Jardel na meia, para armar e lançar. Não podia dar outra coisa: o francês Bruno Metsu recuou o time no intervalo, e os senegaleses, que estavam bem de fairplay no primeiro tempo, desceram a porrada no segundo - isso apesar da falta de Petit no primeiro tempo que merecia expulsão.
Diouf foi um talento à parte - além de fazer a jogada do gol, não desprezou nenhuma bola, correndo atrás e tirando leite de pedra. Incrível como Leboeuf não ganhava uma dele.
Agora, les bleus vão ter que suar para se classificar. Em um comment abaixo, eu falei que pensei na hipótese dos campeões mundiais dançarem na primeira fase. Olha, não é difícil. Dinamarca é sempre adversário perigoso e o Uruguai vai ser um time chatérrimo, com Recoba jogando tudo o que sabe.
Grande jogo, grande resultado. Les bleus agora vão entender que para ter empáfia é preciso um pouco mais que apenas um título mundial - quem sabe com quatro eles podem começar a ganhar de véspera. Como dizem em Minas, angu de um dia só não faz crescer.
Concorrência na área
Claro que alguém tinha que abrir um outro blog de Copa....Mas vale, é o do Thiago Lavinas, do Lance. Está no endereço http://tlavinas.weblogger.com.br/, é só clicar.
Humor
Tá, tudo bem: eles são rivais, são argentinos, têm o Simeone, nossas mulheres deram mole pro Goycochea em 1990 e até hoje ainda dão mole pro Batistuta.
Mas uma coisa não podemos negar: em termos de bom humor, e de sacanear as outras seleções, nada se compara aos hermanos do extremo Sul do Cone Sur. No diário Olé (www.ole.com.ar) desta sexta-feira, o assunto é o espião mandado pelo Felipão à concentração turca.
Nenhum jornalista brasileiro deu tanto sarrafo, e com tanta ironia e bom humor quanto o tal de Rodrigo Calegari, repórter especializado em esculhambar o time canarinho. Sobre o fato de os brasileiros terem mandado o Gilson Nunes fingir que era jornalista (incrível como ninguém se deu conta do ridículo da coisa, Calegari disparou: "Nunes es un hombre corpulento que de periodista no tiene un pelo". Sensacional. Quem quiser ler na íntegra a matéria, clique aqui.
Los Hermanos pegam a Nigéria na manhã de domingo. Estarei secando, claro, mas sem ressentimentos!
Palpite
Para França x Senegal? Não tenho. Se eu confiasse na zebra, 2 a 2. Se eu confiasse no taco dos franceses (segundo Zidane, estão melhor do que na Copa passda), daria 4 a 0 pros bleus.
Taí, dou os dois palpites.
É hoje!!!!!!
Enfim, chegou o dia, tão esperado há quatro anos. São 1h55 desta madrugada de sexta-feira, 31 de maio, e eu estou particularmente emocionado com o início de mais uma Copa do Mundo. Daqui a seis horas e meia, a França começa a defender seu título contra o Senegal - espero que pinte uma nova zebra africana por aí.
Estou feliz. Será um mês de muito trabalho, sem folga, noites em claro, mas acompanhando integralmente o maior evento esportivo da Terra desde 1930. O mundo parece ter consciência de seu tamanho, nesses dias de Copa do Mundo. Chineses, costarriquenhos, turcos, portugueses e espanhóis freqüentam a minha caixa postal. Todos entusiasmados, todos trocando informações, comentários, palpites, enfim, uma confraternização que nem mesmo uma virtual eliminação do Brasil pode estragar.
Depois de 1982, nada poderá doer mais, de jeito nenhum.
Penso neste momento em como divido minha vida em Copas do Mundo. A primeira, 1970, eu tinha dois anos, não lembro. A segunda, 1974, eu começava a ter consciência de estar vivo - e me lembro somente dos palitos de fósforo animados entrando em campo em um comercial da Fiat Lux. Ah, e lembro de Paul Breitner. Não de Beckenbauer ou Cruyff, mas de Breitner - sei lá porquê.
Dói um pouco lembrar da de 1978, talvez a Copa em que eu mais vivia a infância - somando uma certa indiferença com o entusiasmo pelos gols de Nelinho e Dirceuzinho. Um pouco embaçada, vem a imagem de meu pai vendo os jogos. E falando algo sobre Bettega, da Itália, quarta colocada daquele Mundial.
E eu não estava perto dele quando choramos em 1982 - somente quando cheguei em casa, e o vi pensativo. Era nossa última Copa. Em 1986, já sem ele, perdemos nos pênaltis, durante o jogo, depois do jogo, e para sempre. Eu já chegando à maioridade, pensando no que seria da vida - eu não sabia o que faria da vida, só achava que seria feliz porque vivíamos o plano Cruzado. Ilusão de verão, assim como alguns dos meus melhores namoros.
Veio a de 1990, e meu engajamento político embaçou a visão. Tínhamos votado para presidente meses antes, pela primeira vez. Lula perdeu, eu fiquei puto. É claro que a seleção do Lazaroni não ia apagar essa tristeza. Mas foi uma Copa vivida com a ansiedade de quem iria começar a faculdade de Jornalismo no segundo semestre. A vida, começando de novo, depois de mais uma Copa.
Em 1994, éramos todos sonhadores. Entre o entusiasmo da faculdade e os primeiros passos na vida real, vimos Romário fazer gols, e chegar ao aeroporto de Brasília com metade do corpo do lado de fora da cabine, e a bandeira brasileira na mão.
Só quem se indigna com esse país sabe o quanto é possível se comover com demonstrações de amor por ele - e Romário o ama. Naquela Copa de 1994, outra ruptura: comecei a virar "jornalista" alguns meses antes.
Quatro anos mais tarde, quase morri do coração na redação do Jornal do Brasil ao ver Kluivert entrar livre e chutar rente à trave brasileira na prorrogação com morte súbita. Era o ano da graça de 1998, o ano da noite, do surgimento de novas pessoas, dos bares onde todos se encontravam, dos tempos em que se ousou ser feliz com pouco ou nenhum dinheiro. Ou às vezes pendurando a conta.
Uma vida, algumas Copas. Divida sua idade por quatro agora, neste momento em que os bleus estão prestes a começar a Copa do Mundo, e faça uma reflexão - onde você estava em cada uma delas?
E me vem a vertigem terrível, a sensação do abismo, quando pergunto, "onde estarei em cada uma delas?", e "quantas mais terei?"
Graças aos deuses, temos a Copa do Mundo para dar a sensação de eternidade.
quinta-feira, maio 30, 2002
A Divisão Panzer virou um desfile de carrinhos de bebê
Acho que o primeiro foi Effenberg. O escandaloso craque do Bayern de Munique deu um piti depois da Eurocopa (não me lembro bem), em que os alemães fizeram uma campanha vexaminosa, e disse que não ia mais jogar pela seleção.
Não, o primeiro foi Mathias Sammer, que resolveu virar técnico, provavelmente mais em função do desgosto com a seleção do que por sua forma física. Ou o primeiro a sair fora terá sido o próprio Lothar Matthaus, que jogou a Copa de 1998 e disse adeus à Divisão Panzer?
Ok, Sammer, Matthaus, Effenberg - poderíamos contabilizar essas três perdas para os tricampeões mundiais, a Alemanha da força, da marcação e do futebol vigoroso.
Mas a coisa vai mais além. No início de março do ano passado, o zagueiro (que às vezes atua de ala) Marcus Babbel, peça fundamental na conquista alemã da Eurocopa de 1996 (na Inglaterra), contraiu uma rara doença que o afastou por nove meses dos campos e o deixou definitivamente de fora do time de Rudi Voëller. Se antes suas chances eram poucas - desde que anunciou um intervalo de dois anos em partidas da seleção para se dedicar ao Liverpool - passaram a ser mínimas.
Veio 2002, e quando os alemães pensavam que já estavam quase recuperados da goleada de 5 a 1 em Munique, aplicada pela Inglaterra de Michael Owen, perderam o atacante Zickler, contundido em um jogo da Bundesliga.
Zickler parece ter puxado o trem: logo depois, o craque Scholl confirmaria sua intenção de não ir à Copa, por causa de problemas musculares. O próprio Scholl achou melhor desfazer o suspense. Duas semanas depois, Nowotny, zagueiro titular absoluto da Alemanha, sai de maca. Fora da Copa. O mesmo aconteceria com o lateral Christian Woerns.
Uma semana depois de Woerns dançar, a confirmação do que todo mundo já sabia há uns três meses: o meia Deisler, outro jogador fundamental para os alemães, também diz adeus à Copa, com eternos problemas de joelho. Por muito pouco não perderam também Marco Rehmer.
Voëller parecia envelhecer dez anos a cada dia antes do início da Copa. E não é para menos. Com Nowotny, Scholl, Deisler e Zickler de fora, perdeu quase a espinha dorsal inteira do time - ficaram pelo menos Oliver Khan, o eterno ídolo do Bayern de Munique, e Ballack, vice-campeão europeu pelo Bayer Leverkusen. Aliás, para saber a diferença entre Bayer e Bayern, e nunca mais escrever errado, basta guardar que Voëller precisa dos dois: do Bayern, por causa do goleiro, do Bayer, por causa da aspirina.
Voëller é talvez o treinador dentre todos os 32 a ter mais dor de cabeça nessa Copa - e não me venham dizer que um treinador que dispõe de Romário e leva Luizão para fazer turismo tem algum problema encefálico.
O vazio não dói.
Derrapada na tradução
Foi um colar mesmo, e não uma estola, o material roubado por Khalilou Fadiga, craque do Senegal que tem tudo para ser uma das figuraças desta Copa do Mundo. Errei na tradução...
Xiiii...
Notícia do portal Globo.com, onde eu já trabalhei, e que faz uma competente cobertura jornalística da Copa (também, só tem fera):
Seqüência de oito pênaltis perdidos em treino do Brasil
O treino da seleção brasileira desta quarta-feira, em Ulsan, foi marcado por um fato inusitado. Logo aos dez minutos do treinamento, Scolari marcou um pênalti de Vampeta em Ronaldinho Gaúcho, que fez a cobrança e chutou para fora. O treinador mandou voltar e escolheu Ronaldo para bater. Ele também errou. Foi a vez de Rivaldo que também errou. Aí veio Juninho Paulista. Mais um erro. No segundo tempo, os reservas também tiveram o seu pênalti. Edílson, Denílson, Luizão e Kléberson perderam seguidamente.
Fonte: Globo.com
Quem? Eu, comentar? Não, acho que não preciso dizer nada.
Ainda o Senegal
Grandes confusões podem estar no caminho dos novos Leões (assim como os Camarões são os Leões Indomáveis, o Senegal tem o apelido de Leões - a Nigéria tem o de "Águias"). Explica-se: o meia Khalilou Fadiga, que joga no Auxerre, da França, não suporta racismo. E olha que o homem já tem um processo nas costas por ser acusado de "tarrar" uma estola cheia de jóias de uma loja de griffe.
Mas a verdade é que se os adversários começarem a incomodar Fadigá (sim, fala-se assim) chamando-o de gorila ou coisa assim, a porrada vai comer. De verdade.Quando atuava na Bélgica, o talentoso negão chegou a descer o cacete em uns cinco torcedores adversários ao mesmo tempo. Pegou um gancho de um mês. Gancho, que eu digo, no xilindró mesmo.
Aí, para se livrar de ter que vestir o uniforme listrado, Fadigá veio com um papo de se naturalizar belga, dizer que ama a Bélgica, etc. Saiu da cana, jogou um tempo, depois fez as malas e deu uma tremenda perna de anão nos belgas. Partiu para o Auxerre e se firmou como titular do Senegal, e nunca mais pisou na Bélgica nem mesmo para comprar camisa autografada do Scifo.
Na França, segundo relatam jornais de lá, o negão já se indispôs dentro de campo quando falam da cor dele. Ou seja, não me surpreenderei se rolar a magnífica combinação de preto com vermelho (o preto do Fadigá e o vermelho do cartão).
Ser racista no Brasil, com polícia protegendo, e em cima de negros desnutridos que pedem esmola na rua é mole. Quero ver vagabundo ser racista é com o Fadigá, meu chapa. Uma porrada do homem é capaz de inutilizar o cidadão por umas cinco Copas.
Promessas de ineditismo
Já foram 16 edições da Copa e somente sete países a conquistaram. Logo, uma certa monotonia é inevitável. Algumas decisões se repetiram, como Brasil x Itália (1970 e 1994) e Alemanha x Argentina (1986 e 1990). E só os von chucrutz já estiveram em nada menos que seis finais (1954, 1966, 1974, 1982, 1986, 1990), assim como nós os brazucas (1950, 1958, 1962, 1970, 1994 e 1998). Mas esta Copa, com o sistema de chaves de que falei alguns posts abaixo, só permite a repetição de três finais: Brasil x Itália (pela terceira vez), Alemanha x Argentina (idem) e Alemanha x Inglaterra (pela segunda vez). Ou seja, as chances são grandes de termos ineditismo na final. Um Brasil x Portugal seria emocionante, mas minha intuição aposta que Portugal vai bater na caixa de brita a partir das oitavas.
Bom, ter um blog de Copa é bom para isso: se os lusitanos levarem, é só voltar aqui e me xingar.
Uma maneira idiota de sair de uma Copa
Deus não dá asa a cobra mesmo. O goleiro Cañizares, do Valencia campeão espanhol deste ano, já era titular absoluto da seleção comandada pelo treinador Juan Camacho. Poucos dias antes da viagem para a Coréia, porém, ele sofreu um acidente, dando um tremendo talho no pé. Sabem como? Cacos de vidro de um frasco de....perfume!!!! É ou não é uma maneira extremamente idiota de alguém deixar de ir a uma Copa?
Enquanto o Baixinho aqui sofre - não só ele como a família toda, conforme conversei outro dia com a Dona Lita - por não ir, um idiota desses deixa de ir por causa de um vidro de perfume....
Fronteiras - 2
Aliás, falando em Costa Rica, escrevi um artigo para o jornal do Harold, o La Nación. Fiquei muito orgulhoso disso - escrevi para ajudá-lo, e naquele meu portunhol safado, porque ele pedira um parecer sobre Rivaldo e Denílson, mais precisamente a diferença entre os dois e algumas características.
Harold ficou feliz e disse que ia me dar o crédito. Na tarde desta quinta-feira, vá na seção Deportos do link http://www.nacion.co.cr e veja se eu estou lá....Muito legal, muito legal mesmo colaborar com a Costa Rica.
Fronteiras
Mesmo sem estar no local da Copa - na cozinha, como eu já disse no título - tenho feito grandes amizades com jornalistas estrangeiros. Um dos novos "periodistas" amigos é Harold Leandro, do jornal La Nación de....Costa Rica! Há uns 20 dias que trocamos comentários, informações, análises e pareceres sobre Brasil e Costa Rica, que se enfrentam na terceira rodada da primeira fase do Mundial. Uma pessoa bastante solícita, esse costarriquenho. Me deu um panorama quase cinematográfico de como as pessoas vêem a Copa e o futebol.
No dia da partida da Costa Rica, Harold me descreveu um cenário digno de um grande filme. O povo fazendo buzinaço, saudando os jogadores como heróis que partiam para uma missão no Oriente. Esposas beijavam e abraçavam os jogadores, ao lado dos filhos. E, pior: todos sabem das limitações do time numa Copa, da falta de tradição, mas, que fazer? - fiquei pensando que deve ser um dilema existencial você amar o futebol e não ter nascido em um dos sete campeões mundiais (Uruguai, Itália, Alemanha, Brasil, Inglaterra, Argentina e França).
Harold me enviou fotos da partida, cada uma mais lírica que a outra. Me senti um pouco mais humano - não havia nem o fanatismo exacerbado e muito menos o desprezo (quem não gosta de futebol tem um desprezo incompreensível por Copa e Olimpíadas, os dois eventos que MAIS uniram a humanidade no século XX - mas vá entender).
Havia apenas uma certa irmandade, e no ar a sensação de que na volta eles continuarão heróis, independentemente do resultado.
Por mim, podem ganhar nas duas primeiras rodadas. Mas se vierem de gracinha na terceira, mando um vírus pro Harold.
quarta-feira, maio 29, 2002
Vingança, vingança
A Copa foi projetada de uma forma que 16 seleções (grupos A, C, F,H) só podem encontrar qualquer uma das outras 16 seleções (grupos B, D, E, G) exclusivamente na grande final. A revista Placar fez uma comparação muito oportuna e esclarecedora sobre isso - comparou a Copa ao torneio de Roland Garros. Exatamente isso. São 16 para lá, 16 para cá.
Agora, a grande merda (ou não, sei lá): quem sonhava com uma final entre Brasil e França, naquilo que seria a Vingança do Piripaque, bom, pode desistir. A gente só pega os franceses nas quartas-de-final.
Ora, mas do que estou falando? Pegar os franceses nas quartas-de-final....como em 1986, quando eles nos despacharam da Copa mais cedo! De qualquer maneira, mandar eles para casa mais cedo seria uma certa vingança (apesar de achar que a vitória brasileira na Copa será o início de uma grande farsa, não consigo deixar de torcer pela Seleção).
Passando pela França, é muito provável que nas semifinais nós encaremos....sim....eles....eles....aqueles lá, que moram um pouco mais abaixo do Rio Grande...sim....o pessoal do tango...a ARGENTINA! Aí vira guerra civil. Uma semifinal de Copa entre Brasil e Argentina deveria ser precedida de uma grande campanha de alistamento militar.
Acima de tudo, nos vingaríamos de 1978, quando os hermanos compraram juízes, Peru, Calderón e o escambau, e se classificaram para a final ganhando de 6 a 0 do time que tinha o argentino Quiroga (naturalizado peruano) no gol.
E, na final, completaríamos o ciclo - das seleções de mais tradição, são quatro as que podem nos encarar: Alemanha, Portugal, Espanha e.....Itália! Daríamos o troco na Azzurra por 1982. Daríamos? Não, acho que não há nada que pague 1982. Mas vá lá.
Pensando bem, eles é que estão devendo uma vingança por causa daquele pênalti que o Roberto Baggio mandou dos EUA até a Sicília.
Arábia Saudita e os dorminhocos
O problema da Arábia é o sono. Sério. Os caras, que estão no grupo E junto com Alemanha, Camarões e Irlanda, dormem horrores. Tudo bem, às vezes vão até seis da manhã acordados - no máximo fumando um narguilé que eles têm lá. Sem gandaia.
Mas nunca, nunca acordam antes de meio-dia. O goleiro Al-Deaeya, que vai para a terceira copa seguida (assim como a Arábia) deu dor de cabeça para um dos preparadores físicos, o brasileiro Luis Carlos Cerqueira, porque insistia em só acordar com o sol a pino (existe alguma hora na Arábia em que o sol não esteja a pino?).
Sendo assim, liderados por veteranos (além de Al-Deaeya, tem Al-Jaber, craque de outras copas) e compostos por dorminhocos e sujeitos meio esquisitões, a Arábia parte para cima, querendo fazer lances como o de Owairan, que fez aquele golaço contra a Bélgica em 1994, onde driblou até o Sheik de Agadir. Ainda têm um lateral/zagueiro/meia, Soulemaine, que avança bem.
Se os caras acordarem a tempo, podem até dar trabalho para Alemanha (que vai com uma porrada de desfalques), Irlanda (cujo craque, Roy Keane, deu um piti inacreditável e voltou da Coréia para casa) e talvez Camarões. Talvez.
Contra os Leões Indomáveis, acho que os petroleiros não vão ter tempo nem de acordar. Por tudo isso que falei da Arábia e de Irlanda e Alemanha, é que aposto em Camarões sobrando nesse grupo, talvez o mais fácil que os negões já pegaram. Quero ver alguém segurar. Epa. Foi mal.
Time para começar o jogo
Eu acho que Felipão vai de Marcos, Edmílson, Lúcio e Roque Júnior; Cafu, Emerson, Vampeta, Ronaldinho e Roberto Carlos; Rivaldo e Ronaldo Fenômeno.
Denílson ele vai descartar em cima da hora. É muito "brasileiro" para o Scolari.
Com os 23 que têm lá, eu iria de Dida, Edmilson, Lúcio e Anderson Polga; Cafu, Emerson, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos; Denílson e Ronaldo Fenômeno.
Contra a Turquia? Porra, bola na rede!
Lembrai-vos de 1990
Em 1990 - sempre digo isso nas mesas de bar - o futebol brasileiro vivia o seguinte momento: o campeonato carioca levou dois meses no tapetão para ser decidido, depois que o Vasco carregou uma caravela em campo tentanto melar uma decisão. O Bragantino chegou à final do campeonato paulista. O Corinthians foi campeão brasileiro com um gol de carrinho feito por Tupãzinho. Neto era o jogador mais pedido para a seleção. Zico parou de jogar. Luvanor era promessa de craque. O Flamengo decidiu a Copa do Brasil com o Goiás.
Enfim, o futebol brasileiro estava no fundo do poço - para piorar, Ricardo Teixeira tinha sido eleito no ano anterior o presidente da CBF. E Eurico Miranda era chefe de delegação nas eliminatórias da Copa.
A Seleção Brasileira jogava no 3-5-2 - e tomou ferro da Argentina. Os jogadores são fiéis a Lazaroni e a única discussão mesmo é em relação à premiação.
Vamos dar um pulo de onze anos. São Caetano, Ituano, Atlético Paranaense e mais tarde Brasiliense atingem decisões importantes. O Flamengo sai na primeira fase da Libertadores. O Rio vive o Caixão-2002 com Fla-Flus vazios e Flamengo x Botafogo fazendo preliminar de jogo do América. O Brasil sofre nas Eliminatórias e joga uma partida DECISIVA contra a Venezuela onde um botinudo faz dois gols e vira herói (sendo que, no ano anterior, em Maracaibo, Romário tinha feito quatro...). Na Copa América, o Brasil perde para Honduras.
A Seleção Brasileira JOGA no 3-5-2. EMERSON é o capitão do time - e jamais contrariou uma palavra sequer do técnico, coisa que qualquer capitão faz. Menos na premiação, pois já há rumores de que houve certo desconforto ao discutir a premiação do penta.
Só me resta torcer para não encararmos a Argentina. Como teria dito Churchill, a história sempre se repete - a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
E não há farsa maior do que uma vitória desta seleção brasileira de Ricardo Teixeira e CPI.
terça-feira, maio 28, 2002
Abertura da Copa
O primeiro jogo, França x Senegal, abre a Copa. Todo mundo já dá como favas contadas. A seleção campeã do mundo (a única a conquistar a Eurocopa ainda como campeã do mundo) contra uma pobre seleção africana subdesenvolvida.
Certo?
Errado. Senegal promete ser pedreira. Tudo bem, se tiver goleada, é coisa do futebol. Agora, TODOS os titulares do Senegal atuam na França. O artilheiro da equipe, um negão invocado chamado El Hadji-Diouf, atua no Lens, vice-campeão francês, e por acaso vice-artilheiro da França este ano. O meio-campo Khalilou Fadiga é desses caras que já arrumaram diversas confusões - porrada de carro, confusão com torcedor e, pasme, ROUBO de jóias. Quer dizer, não é nenhum menininho inexperiente.
Os bleus podem esperar por muita porrada. E ainda vão sem Zizou, ou seja, grandes chances da Copa começar com zebra.
Bem vindo à cozinha, quer dizer, à Copa
Madrugadas longas, peladas como Japão x Tunísia, porres homéricos ao meio-dia, debates sobre Anderson Polga/Roque Júnior, e pragas rogadas aos argentinos. Assim será a Copa vista deste blog, escrito por alguém que vai ver os jogos e ainda escrever sobre eles para um jornal de esportes.
Espero que vocês que lêem o Blogus diariamente possam acompanhar o COPA VISTA DA COZINHA, que é tão somente a visão de quem ficou aqui pelo Brasil. Que role la pelota!